Escola forte ou fraca?
“Durante muito tempo, o conceito de escola forte ou fraca esteve atrelado à quantidade de conteúdo transmitido para um aluno que era considerado como um recipiente vazio, ou seja, desprovido de conhecimento. As escolas consideradas fortes eram chamadas de “conteúdistas” e trabalhavam muito em cima da memorização e com foco em resultados medidos por provas”.
Entretanto, o avanço nas pesquisas de áreas como Epistemologia Genética, Psicologia e Neurologia, trouxe uma nova concepção de aprendizagem onde o conhecimento é construído internamente pelo sujeito que aprende nas relações com o meio e com o outro.
As escolas ditas “fortes” não desenvolviam a criatividade nem o pensamento crítico e reflexivo. Enchiam os alunos de tarefas repetitivas como exercícios e lições de casa cujos conteúdos eram rapidamente esquecidos após as provas. Isto cabia num mundo previsível, onde as escolhas de formação eram sempre as mesmas e o diploma era garantia de um bom emprego e de um futuro de sucesso.
Isto mudou drasticamente nos últimos anos. Hoje vivemos num mundo marcado pela incerteza e pela mudança. Ter uma profissão não é garantia de mais nada quando não sabemos nem quais serão as escolhas que as crianças terão no futuro. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman chamou estes tempos de “Modernidade líquida” porque tudo muda rapidamente. Nada é feito para durar, para ser “sólido”. Não temos mais uma visão de longo prazo.
O historiador israelense Yuval Harari vai mais longe ainda quando diz que o modelo de vida tradicional dividido em duas partes – a primeira focada na aprendizagem e construção de uma identidade estável e a segunda focada no trabalho, se tornará obsoleto até 2050 e que a única forma de os humanos se manterem relevantes será continuando a aprender ao longo de suas vidas, se reinventando muitas vezes. .
Para isto, terá que desistir frequentemente do que sabe mais e se sentir em casa com o desconhecido, o que vai exigir muita flexibilidade mental e grande reserva de equilíbrio emocional.
Ora, se juntarmos o que hoje sabemos sobre os processos de aprendizagem com as novas demandas deste mundo líquido temos uma urgência em reformular os processos de ensino nas escolas que ainda focam somente em conteúdos e resultados.
Em função disto, o conceito de escola forte ou fraca também deve mudar. A escola forte no século XXI, segundo Harari, deve ensinar colaboração, criatividade, comunicação e pensamento crítico enfatizando, assim, habilidades para a vida e minimizando as habilidades técnicas. Se não sabemos como será o mundo e o mercado de trabalho daqui a 50 anos, não sabemos de quais habilidades específicas as pessoas precisarão.
Sabemos sim que precisarão compreender melhor a si mesmos e a nossa realidade diante das novas tecnologias e suas consequências.
A escola “forte” deve, então, proporcionar situações em que as crianças possam se conhecer, interagir com o meio e se desenvolver em suas potencialidades além de estabelecer uma relação muito positiva com a aprendizagem. Interessar-se por aprender, gostar de se lançar ao desconhecido e ter equilíbrio emocional podem ser as habilidades essenciais para o século XXI.
Estimular o raciocínio e a criatividade através da resolução de problemas reais, valorizar as relações interpessoais, o trabalho em equipe e a pesquisa, desenvolver as competências individuais e as inteligências múltiplas através do trabalho com projetos são práticas que podem levar ao gosto pelo conhecimento e ao desejo ativo de aprender.
Ana Lucia Figueira da Silva
Coordenadora da Educação Infantil da Escola Primeira