O que as crianças fazem no ateliê?

Onde enxergamos galhos e mesas de luz, elas enxergam baquetas e tambores. Onde enxergamos uma mão cheia de sementes espremidas, elas enxergam “peixes amassados”. O que para nós são as paredes do ateliê, para o G3D, nesta manhã, era uma floresta onde havia um lobo com um olho só, dono de um rabo tão comprido que dava até pra dobrá-lo. Com a ajuda da atelierista Simone, as crianças foram inventando uma narrativa na parede, usando seus desenhos como personagens e os gravetos como cenário. Após a livre exploração dos materiais disponíveis no ateliê, é um ritual fazer uma roda para conversar sobre o que acabaram de vivenciar. “Nós vimos que aconteceram muitas coisas aqui, agora. Vocês querem nos contar?”. As educadoras escutam as crianças, ajudando-as a verbalizar o que descobriram sem usar palavras, usando apenas os saberes do corpo, em pequenos grupos ou sozinhas. E, ao responder às perguntas dos professores, as crianças criam novas teorias e avançam em suas pesquisas. Hoje, iniciou-se um papo sobre galhos, que “crescem em árvores”. Como os galhos crescem nas árvores? – pergunta uma educadora. “O lobo cresce quando come verdura”; “O galho cresce comendo comida também, só que ele não tem boca”. Então, como ele come? “A água da chuva entra na terra. Na terra tem a boca da árvore”. A terra é a boca da árvore! E da boca do menino escapuliu um poema, apenas um dos cem que ele tem guardado dentro de si. “A criança tem cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar, de jogar e de falar”, como diz o poema “A Criança é feita de Cem”, do educador italiano Loris Malaguzzi, cujo centenário de aniversário será comemorado na próxima semana. Malaguzzi foi o criador da abordagem Reggio Emilia, projeto de educação que inspirou a abertura da escola Primeira há 10 anos, e seguirá inspirando por mais cem anos. "(e depois, cem, cem, cem").

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